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 APRESENTAÇÃO À ACADEMIA BRASILEIRA
Jorge Amado
 


     Senhor Presidente,
 
    Tenho o prazer de passar às suas mãos o exemplar do livro de poemas Paralelo entre homem e rio: Fluviário que o jovem poeta baiano Cid Seixas envia para a biblioteca da Academia; e quando digo que tenho o prazer em fazê-lo não estou apenas usando uma fórmula: realmente eu o faço com a alegria devida à qualidade dos poemas encerrados no pequeno volume.
 
    Já se disse, Senhor Presidente, que o único defeito deste Fluviário é sua magreza gráfica, o pequeno número de poemas. Mas, por outro lado, isso se deve ao desejo do poeta de manter a unidade do livro, e essa magreza gráfica corresponde a um despojamento, a uma recusa a qualquer barroquismo, a uma medida de palavras que engrandece a emoção e a torna límpida e simples qual gota d’água.
 
    Creio que com esse livro, Senhor Presidente, Cid Seixas revela uma força de expressão e um domínio da matéria poética que o situam na primeira linha da poesia brasileira tout court. Poesia madura, de emoção contida e profunda, de beleza grave e meditada.
 
  Disse mais acima que, num buscado despojamento, numa oposição ao barroco, tão caracteristicamente baiano, Cid Seixas encontra o caminho, o leite onde flui sua poesia. Lembra-me ele, por isso mesmo, certos grandes poetas pernambucanos, Joaquim Cardozo, João Cabral de Melo Neto, Carlos Pena Filho, o inesquecível Carlos Pena, que nos foi roubado na ida atual de Cid Seixas. Há um parentesco entre esses pernambucanos e o baiano do Recôncavo; uma timidez que resulta em força e em decisão. Um parentesco que não é parecença nem muito menos imitação.
 
   Pergunto eu, no prazer da leitura de Fluviário: quando crescer o poeta ainda mais – e crescerá com certeza –, quando do “pasto das águas” sair para os campos do mar-oceano, manter-se-á nos limites da contenção atual, ou os elementos tão poderosos da Bahia, o barroco, o trópico, o mistério denso, colorido, perfumado, se imporão sobre a continência atual, dando à sua poesia fronteiras ainda mais amplas? Só o poeta e o futuro poderão responder.
 
    Poeta das águas do Rio Paraguaçu, de cidade se vilas asfixiadas no passado e na decadência, poemas de uma época – na transformação atual do mundo da Bahia, quais os rumos do poeta nos dias de amanhã? Hoje ele escreve:
 
         “Por isso não somos gordos,
         nem nos damos às farturas:
         o rio é um magro mar.”
 
    E esses versos tão belos definem sua poesia no dia de hoje. Não sei como será amanhã, mas estou seguro, Senhor Presidente, que o poeta Cid Seixas não corre mais nenhum perigo com sua poesia. Estamos não apenas diante de uma vocação e, sim, de um poeta no domínio do seu ofício de poetar. Uma nova geração literária se forma na Bahia, da qual Cid Seixas é uma das figuras mais válidas; produtos de um tempo tão violento como o nosso tempo atual, eles são lúcidos e conscientes.
 
 
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Texto de apresentação do livro Fluviário, de Cid Seixas, na Academia Brasileira de Letras, no dia 29 de junho de 1972, pelo escritor Jorge Amado.

      


 





 


     
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Este site foi concluído e disponibilizado  no mês de outubro de 2016. Última atualização desta página: março de 2021.
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