A
comunicaçãO
na História
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Pesquisa dos anos 70
sobre a comunicação
na Revolução dos Alfaiates
é republicada pela atualidade do enfoque
e pioneirismo nos estudos culturais.
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O artigo começava assim:
"Marshall McLuhan no seu trabalho capital — Understanding Media: The Extensions of Man
— colocou os meios de comunicação como elemento fundamental da cultura. Desde a
sua publicação, há mais de uma década, até hoje, centenas de trabalhos seguindo
a mesma orientação são publicados em toda parte. Paralelamente, a Linguística e
a Semiologia desenvolvem questões análogas dentro de um enfoque estruturalista,
retomando a linha traçada por Jakobson e Trubetzkoy no I Congresso
Internacional de Linguística (Haia, 1928). Na Europa, o grupo da revista Communications — cujos trabalhos foram
publicados parcialmente no Brasil, pelo Editora Vozes, na coleção Novas
Perspectivas em Comunicação — lidera o pensamento mais atual. Entre nós,
destacam-se principalmente os teóricos da poesia concreta Haroldo de Campos e
Décio Pignatari, professores do curso de comunicação da PUC de São Paulo.
Dentro deste quadro, qualquer lançamento de estudo teórico sobre o assunto seria
apenas mais um livro.
Assim é que o poeta e jornalista Florisvaldo Matos,
ao elaborar sua dissertação de mestrado, associou teoria e prática no estudo do
fato histórico mais importante, ocorrido em 1798 na Bahia.
Hoje, é possível avaliar a importância do processo
comunicacional nos movimentos políticos e sociais; o que não seria cogitado no
Brasil do século XVIII, quando os textos eram copiados à mão e a comunicação
oral, de pessoa a pessoa, substituía os atuais recursos da mídia. Muito embora a
Bahia colonial vivesse uma época imprópria à comunicação, a Revolução dos
Alfaiates, como enfatiza Florisvaldo Matos, teve como "espinha dorsal as
estruturas de comunicação".
Estruturas primárias, é verdade, mas concebidas com
o rigor necessário à consecução dos objetivos visados.
— "A comunicação foi a via pela qual respirou a
revolução, nasceu, viveu e morreu nela". A proposta de Florisvaldo Matos é
estudar um fato histórico que vem interessando vivamente aos historiadores
baianos. Ou melhor: é reestudar, impondo uma linha interpretativa que parte de
um esquema estrutural previamente elaborado — destacando o fenômeno
informacional como base de todo o processo revolucionário de 1798.
Evidentemente, não se trata de um trabalho de historiador, mas de pesquisa
histórica, que se pretende "canal" entre dois sistemas: a Comunicação
e a História.
Professor da Escola de Comunicação da UFBA,
Florisvaldo Matos elaborou o texto indo em busca de importantes fatos que
envolveram a luta da nossa gente pela causa democrática, dentro de um enfoque
interdisciplinar que articula múltiplos elementos culturais.
Como ele acentua, os historiadores não se arvoraram
a dar a última palavra sobre os diversos aspectos do movimento revolucionário
de 1798; nem poderiam fazê-lo, dado o caráter do acontecimento.
Florisvaldo Matos compreendeu a importância da
tarefa que vem desafiando estudiosos e, pioneiramente, tentou descodificar a
mensagem do Movimento Democrático de 1798 à luz de novas linguagens, para que
se possa estabelecer a interpretação global do sentido histórico, político e
social do fato.
Dentro deste plano metodológico, o autor resgata e
analisa a comunicação no Brasil Colonial e na Bahia do século XVIII, passando
então a estudar o que seria "a teia da comunicação em 1798". No
capitulo dedicado aos "Comunicadores da Revolução", Florisvaldo Matos
propõe a existência de dois tipos básicos de comunicadores. Um tinha a
responsabilidade de produzir as mensagens destinadas à formação da consciência
revolucionária (integrado, naturalmente, pela chamada elite intelectual,
incumbida do intercâmbio de "produtos culturais que formariam a base
ideológica do movimento"). O outro se empenhava na produção de mensagens
voltadas para a ação revolucionária (por sua vez, formado pelas pessoas
"de classe social mais baixa, dentro do sistema, acabaria por dar características populares à
tentativa de rebelião, diferentemente do que ocorrera na Inconfidência de Minas,
anos antes").
A
Comunicação Social na Revolução dos
Alfaiates estuda as mensagens dos
revolucionários, estabelecendo o papel assumido tanto pelas mensagens escritas
e orais quanto por aquelas que eram submetidas a um inventário de sinais
convencionais. Florisvaldo Matos destaca a importância de todo este trabalho,
que ajudou não apenas a forjar a consciência de quantos se engajariam ao
movimento, mas também, ajudou a delimitar tarefas revolucionárias, comunicando
e transmitindo a orientação central dos conspiradores.
Livro inovador e
pioneiro, A Comunicação Social na
Revolução dos Alfaiates precisa ser retomado por outros estudiosos da
área, pela contribuição frutífera aos estudos de comunicação."
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A comunicação na história. Artigo crítico sobre o
livro A comunicação social na Revolução
dos Alfaiates, de Florisvaldo Matos. Coluna “Leitura Crítica” do jornal A Tarde, Salvador, 31 ago. 98, p. 7.