O junco é iRMão de Macondo
Marcelo Torres
Neste 2017 temos o jubileu de ouro de Cem Anos de Solidão, um dos livros mais
porretas da literatura universal, de autoria do colombiano Gabriel García
Márquez, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 1982.
O romance narra mais de um século de histórias,
envolvendo gerações da família Buendia. Além de todo o encanto do romance, uma
coisa que me atraiu feito imã, no livro, foi a parecença entre Macondo e o
Junco.
E parece que eu não estava sozinho com essa percepção.
Em um trecho de resenha publicada no Estadão em 06.03.1988, o poeta,
ensaísta e crítico literário Cid Seixas comparou Junco e Macondo.
Disse ele que o “Junco de Antônio Torres e Macondo
de Gabriel García Márquez, capitais de países tão diversos, são cidades um
pouco parecidas. Cidades que flutuam na memória e na sensibilidade de milhares
de leitores”.
Na minha memória e sensibilidade ficou também a
revelação feita pelo escritor Antônio Callado ao amigo Luiz Eudes, um cabra que
nasceu por acaso no ABC Paulista, mas que teve a sorte de ser criado no Junco:
“Tenho inveja de García Márquez e de Antônio
Torres”, brincou Callado. “Um pode dizer que nasceu num lugar qualquer da
Colômbia, que ele chama em seus livros de Macondo. O outro é do Junco. Isso dá
a eles um colorido que não tem, por exemplo, alguém como eu, que nasci em
Niterói, uma cidade igual a qualquer outra.”
Macondo é o ambiente de muitas obras de Garcia
Marques, especialmente Cem Anos de Solidão. Junco, mesmo sendo apenas um lugar,
é o maior personagem das obras de Antônio Torres, como se vê/lê em “Essa
Terra”.
Macondo foi uma fazenda onde moraram os avós de
García Márquez, nos arredores da cidade de Aracataca, na Colômbia. Junco de
Fora e Junco de Dentro foram fazendas criadas pela família Cruz, nas cercanias
do que hoje é a cidade de Sátiro Dias, Bahia, Brasil.
Os dois nomes vieram dali do chão, da terra.
Macondo era um fruto (talvez um tipo de banana) comum no início do povoado
colombiano. Junco era uma planta flexível muito encontrada no começo da
povoação da cidade baiana.
Em Cem Anos de Solidão, Macondo é “uma aldeia de
vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas
diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes
como ovos pré-históricos".
Já o Junco nasceu a partir de uma lagoa – Lagoa das
Pombas, primeiro nome do lugar. Perto havia uma pedra enorme, como ovo
pré-histórico, onde vaqueiros paravam para que eles e seus cavalos e o gado
descansassem – era a Malhada da Pedra.
No romance de García Márquez, Macondo nasce de uma
viagem da família Buendía, comandada pelo patriarca José Arcadio Buendía. Já o
Junco nasce da viagem da família Cruz, sob o comando do patriarca João da Cruz.
Essa
Terra tem início com alguém dizendo “Se estiver vivo um dia ele
aparece”. Cem Anos de Solidão
começa com “Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel
Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota...”
Eis, enfim, um pouco de Macondo e do Junco, essas
duas “capitais de países tão diversos”, no dizer de Cid Seixas, esses dois
irmãos distantes – um localizado no departamento de Magdalena, na Colômbia; o
outro no sertão da Bahia, Brasil.
(marcelodojunco@gmail.com)
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