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LÍNGUA, LINGUAGEM
E OUTROS CÓDIGOS

Dois textos, dois livros:

 Linguagem e sexo |  A linguagem do corpo

Malcolm Coulthard, pesquisador da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, vem desenvolvendo trabalhos de análise do discurso junto ao programa de Mestrado da Universidade Federal de Santa Catarina, onde atua como professor visitante. O livro Linguagem e sexo é resultado deste trabalho, que articula as suas pesquisas de Birmingham com investigações realizadas no Brasil.

Ao contrário do que o título do livro pode sugerir o seu objeto de estudo não são as pitorescas penetrações do sexo nos recônditos da linguagem, mas o estabelecimento do perfil de homens e mulheres, enquanto grupos distintos de usuários da linguagem. Segundo o autor, o sexo do indivíduo implica em realizações linguísticas distintas que não podem ser deixadas de lado pelo estudioso.

São muitas as investigações que levam em conta a diversidade social, etária, econômica e geográfica do falante, tendo a diversidade sexual despertado interesse especialmente de grupos feministas. O autor deste pequeno livro parte dos clássicos estudos sociolinguísticos de Labov sobre o dialeto de New York, ainda hoje tomados como modelo de investigações da fala. Estudos de crianças falantes do Inglês nos Estados Unidos e na Escócia dão conta de um fato que marcará a distinção da norma linguística aceita entre homens e mulheres.

Sabemos que a fala é uma vistosa etiqueta que informa ao interlocutor não só o lugar de onde é o falante, como também a sua classe social. Deste modo, os dialetos de maior prestígio, isto é, de regiões mais ricas, ou de grupos economicamente mais fortes, são os falares mais prestigiados pelo público. Não passa desapercebido de ninguém o esforço de algumas pessoas para imitar a fala de maior prestígio.

Assim é que, desde crianças, as meninas, mais atentas à moda como marca de status, estendem o cuidado também à fala. Enquanto elas procuram formas mais próximas dos padrões linguísticos das classes de maior prestígio, os meninos assumem realizações linguísticas mais identificadas com o seu próprio grupo.

Questões desta natureza constituem a ossatura do livro de Coulthard que, embora escrito na sua língua materna, o Inglês, revela, através dos exemplos, um certo conhecimento da realidade linguística brasileira, o que assegura ao trabalho um lugar na bibliografia nacional sobre o assunto.

Convêm, no entanto, chamar atenção para o caráter apressado do texto em questão. O autor mistura o objetivo do livro, isto é, como os homens, de um lado, e as mulheres, do outro, falam com um outro problema: como se fala das mulheres. Os preconceitos com relação à mulher dos quais a linguagem dá testemunho inequívoco.

Mais rigor e menos superficialidade tornariam o livro mais representativo das investigações desenvolvidas por Malcolm Coulthard.

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Língua, linguagem e outros códigos. Artigo crítico sobre o livro Linguagem e sexo, de Malcolm Couthard. São Paulo, Ática, 88 p. Coluna “Leitura Crítica” do jornal A Tarde, Salvador, 27 nov. 95, p. 5.

Quando o corpo fala

O corpo pode ser visto como um sistema de comunicação, permitindo ao observador a leitura do indivíduo a partir das suas características corporais. Pelo menos, há uma longa tradição popular que procura nos sinais exteriores do corpo o sentido interior. Desde as teorias lombrosianas, a ciência estabelece uma relação entre a forma corporal e o caráter. O povo, no seu saber difuso, encontra paralelo entre um olhar e um desejo, um gesto e uma confissão.

Tanto as formas do corpo quanto os seus movimentos são convertidos em linguagem, que comunica alguma coisa a alguém e permite ao outro ler alguma coisa.

É baseado nestes fatos conhecidos de todos nós que Pierre Guirraud tece os seis capítulos de A Linguagem do Corpo, fazendo um inventário de falas e expressões que se referem ao corpo, e de formas e movimentos que fazem o corpo falar. "Assim, um queixo enérgico, lábios gulosos etc." são signos de faculdades psíquicas ou de características do portador.

"A linguagem e o corpo" é o título e o tema da primeira parte do livro, onde se busca na língua toda uma gama de construções cujo saber se esconde – ou se acha – no corpo. "A linguagem do corpo" é como se chama a parte final, em oposição ao sentido da primeira. Nesta, são ligeiramente discutidas disciplinas como a cinésica, ou o estudo do movimento, a proxêmica, ou o estudo da posição e das distâncias, e, estranha mistura, a prosódica, disciplina que se ocupa da emissão vocal ou da pronúncia da linguagem verbal.

Embora aflore algumas questões curiosas, este livro de Pierre Guirraud apenas aflora, ficando na superfície, no pitoresco e no anedótico. Por outro lado, apenas realiza uma listagem de questões, sem nunca tirar daí lições úteis. É resultado destas pesquisas ligeiras, destinadas ao consumo da moda intelectual mais corriqueira e pop. Para quem gosta de ler como quem assiste a um programa de televisão, A linguagem do corpo é uma leitura interessante, do gênero da "ciência" americana que apresenta a estatística do óbvio.

No mais, já que o corpo é o tema, vale lembrar um velho verso do tempo da pilantragem: "Quem não tem suingue morre com a boca cheia de formiga". Erudita conclusão para um livro mais erudito ainda!

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Quando o corpo fala. Artigo crítico sobre o livro A linguagem do corpo, de Pierre Guirraud. São Paulo, Ática, 104 p. Coluna “Leitura Crítica” do jornal A Tarde, Salvador, 27 nov. 95, p. 5.




































 
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