|
|
O
LIVRO NA BAHIA
Sérgio Mattos reúne quarenta e dois
poemas neste seu quarto livro de poesia, Asas
para amar, com capa e ilustrações e Ailton Lima. São poemas líricos, ora
falando do amor, numa perspectiva espiritual, simbólica, ora falando do desejo
e dos insondáveis caminhos de Eros, nas suas reinações pelo espaço do corpo e
da alma.
O poema título do volume é o melhor da
coletânea. Consegue uma comunicação com o outro que o poema “Palavra animada”
da página 11, por exemplo, não consegue. Por outro lado, fazer a sugestão
erótica ausente em textos de eroticidade explícita e, por isso mesmo, menos
poéticos. O erotismo é talvez uma das formas mais difíceis de poesia, alcançada
com a graça de um Manuel Bandeira ou com a idade madura de um Drummond. Ainda
jovem e inquieto, Sérgio Mattos introduz-se nestes labirintos, quando o tempo
para ele é ainda de experimentar e não apenas de perpetuar pela palavra.
“Por não ter uma árvore
onde gravar teu nome,
(...) o escrevi no espaço.”
Mas ao falar de Sérgio Mattos não se
pode deixar de registrar a personalidade multifacetada, o intelectual sempre
presente na vida cultural da cidade. E aqui, permita o leitor, dou ao texto um
tom pessoal. Venho acompanhando o seu trajeto desde 1968, quando ele publicou
com outros jovens iniciantes na poesia a revista Experimental. Depois fomos
duplamente colegas, no curso de jornalismo da UFBa. e na atividade diária que
exercíamos na imprensa. Hoje, ambos somos professores da mesma universidade.
Sérgio continua exercendo o jornalismo diário, do qual me afastei, mas
continuei ligado ao velho colega.
Acompanhei os seus lançamentos
anteriores, tanto na poesia quanto no ensaio. Lembre-se que como professor de
jornalismo Sérgio Mattos tem contribuído para o enriquecimento da bibliografia
brasileira com títulos oportunos e adequados as diversas circunstâncias. Doutor
em Comunicação nos Estados Unidos, Sérgio dividiu seu tempo americano entre a
análise da imprensa escrita e televisiva, sem se esquecer da atividade poética.
Lá publicou dois livros, como testemunho da importância que ele mesmo atribui à
sua produção literária: Time’s Sentinel,
em 1979, e I No Longer Sing, em 1980.
É esta fidelidade de Sérgio Mattos à
literatura que fez dele um profissional inteiramente comprometido com a causa do
livro. Fundador e presidente do Instituto Baiano do Livro, sociedade sem fins
lucrativos destinada a implementar uma política editorial na Bahia. O IBL vem
anualmente promovendo encontros de editoração e procurado despertar uma
consciência crítica com relação ao livro. Pode-se mesmo dizer que a instituição
de direito privado dirigida por Sérgio Mattos vem fazendo aquilo que os órgão
oficiais de cultura deveriam fazer.
Como o IBL não dispõe de recursos e
verbas para assegurar o fomento da atividade editorial na Bahia, ele vem
tentando despertar o interesse de empresários e autoridades. Vem agindo em
dupla frente: de um lado fornecendo subsídios e dados capazes de incutir nos
empresários o interesse pela implantação de uma indústria editorial no estado.
Por outro lado, vem orientando atividades que caberiam a um Instituto Estadual
do Livro ou a um departamento dos órgãos oficiais de cultura. Tudo isso a custo
zero para o poder público.
*
* *
A Bahia é seguramente o único dos
grandes estados brasileiros que não tem uma política editorial acompanhada pelo
Estado. Do mesmo modo que não tem uma indústria editorial. Salvador, em termos
de livros e de editoras, não é muito diferente das muitas cidades interioranas
do país. Somos a terceira maior cidade, mas estamos muito distantes de Porto
Alegre, de Belo Horizonte e de outras capitais, quanto à produção e à
circulação do livro.
Belo Horizonte tem, pelo menos, duas
editoras atuantes. Porto Alegre, cidade também menor do que Salvador, tem
editoras como a Mercado Aberto, a Tchê e a L & PM, todas com circulação
nacional.
Em termos de atuação do poder público
na produção do livro, muitos estados brasileiros, bem menos importantes do que
a Bahia, têm o seu Instituto Estadual do Livro. Mesmo aqueles que não dispõe de
tal estrutura desenvolvem com regularidade uma política editorial. E a Bahia? O
que temos publicado? A nossa Fundação Cultural há muitos anos que não
desenvolve uma política voltada para o livro. Não existem recursos destinados à
editoração. Resta-nos esperar que os atuais dirigentes da área, Paulo Galdenzi,
como Secretário de Cultura e Turismo, e José Augusto Buriti, como Presidente da
Fundação Cultural, anunciem e executem os seus planos com relação ao livro.
Um exemplo gaúcho nos enche os olhos.
No ano passado, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul, através do Instituto
Estadual do Livro publicou cerca de setenta obras. Já este ano, eles vêm
publicando mais de um livro por mês.
Isso para falar apenas em lançamentos
oficiais. As editoras particulares publicam mais de um livro por semana. Será
que somente o gaúcho sabe ler. Nós baianos, só sabemos pular no carnaval?
A Empresa Gráfica da Bahia também
poderia atuar nesta área, correspondendo à própria história da instituição. A
antiga Imprensa Oficial, hoje Empresa Gráfica (EGBA), editou títulos e coleções
que ainda hoje constituem consulta e referência obrigatórias. Aqui o desafia
para Tasso Franco, homem comprometido com o livro, para que marque a sua
passagem pela EGBA da maneira mais duradoura: não só imprimindo, mas também
editando.
Por fim, o Conselho Estadual de Cultura
poderia ter um papel concreto no tocante à política editorial. Se a Bahia não
dispõe de recursos para implantar um Instituto Estadual do Livro, poderia
valer-se de instituições já existentes, como o seu Conselho de Cultura (a
exemplo do que alguns governos fizeram no estado de São Paulo), para
implementar um programa editorial capaz de dizer à posteridade que os seus
governantes sabem da importância do livro no processo de desenvolvimento de uma
sociedade.
Quando a Bahia voltará aos tempos não
esquecidos em que, no plano privado, Pinto de Aguiar, publicava importantes
títulos pela Progresso? Em que Edgar Santos fazia coedições pela Universidade? Em
que Luís Viana Filho fazia publicar obras e coleções como as de Xavier Marques,
Junqueira Freira e Gregório de Matos, esta última em sete volumes?
Para auxiliar uma tal aventura, o
Instituto Baiano do Livro, poderá ser convocado, porque a experiência dos seus
membros é fundamental para um tal projeto.
O lançamento do novo livro de Sérgio
Mattos, como se vê, é pretexto legítimo para repensar a editoração na Bahia.
Ninguém mais do que ele vem tentando dotar o nosso estado de uma indústria
editorial.
______________________
O
livro na Bahia. Artigo sobre o livro Asas
para amar, de Sérgio Mattos. Salvador, Marfim, 1995, 91 p. Coluna “Leitura
Crítica” do jornal A Tarde, Salvador,
24 abr. 95, p. 7.
|
|
|