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DONA PALOMA
E SUAS DUAS COZINHAS
Paloma
Jorge Amado Costa.
A Comida Baiana de Jorge Amado
ou O Livro de Cozinha de Pedro Archanjo
com
as Merendas de D. Flor. São Paulo, Maltese, 1994.
Depoimento sobre Saramago,
de Ruy
Simões. Salvador, Edição do Autor, 1994.
Há sete anos atrás, Paloma Jorge Amado
Costa começou a estudar a obra do seu pai para fazer um livro de cozinha dos
personagens de Jorge Amado. Leu os romances por ordem de aparição e fez um
levantamento sistemático de todas as referências à comida e à bebida. Só então
percebeu a riqueza do material, suficiente para um estudo antropológico ou
mesmo sobre a interferência da comida nas relações interpessoais. Apesar
disto, nos conta que não cedeu à tentação de um estudo acadêmico, mas se
manteve firme no objetivo de fazer um livro de cozinha.
Assim é que nasceu o rico volume
projetado por Pedro Costa e intitulado A Comida Baiana de Jorge Amado ou O
Livro de Cozinha de Pedro Archanjo com As Merendas de D. Flor.
Quanto ao material levantado por Paloma
na sua pesquisa inicial, está tabulado e pronto para ser consultado pelos
possíveis interessados; tendo sido anexado ao acervo da Fundação Casa de Jorge
Amado.
Quanto ao livro propriamente dito, há
nele dois aspectos a ressaltar: de um lado, a presença constante das citações
de passagens de obras amadianas, onde o prato aparece, numa deliciosa salada
lítero-culinária de momentos bem baianos da escrita de Jorge Aamado, escritor
que se disse um baiano romântico e sensual. E, do outro lado, o seu aspecto
utilitário, enquanto livro de receitas originais de várias cozinheiras e
cozinheiros.
Encontramos até receita inventada e
executada pelo próprio Jorge Amado, que de tando conviver com personagens quituteiros
aprendeu com suas criaturas um pouco da arte de agradar ao paladar. Paloma se
confessa discípula de sua mãe, D. Zélia Gattai, na preparação de pratos
admirados pelo gosto baiano, mas não deixou de incluir no livro receitas de
muitas outras pessoas, profissionais da cozinha ou amantes da arte de preparar
um bom prato.
A rigor, o livro não é uma coleção de
comidas baianas, segundo a compreensão usual, mas uma livro de receita dos
personagens de Jorge Amado. Assim, os pratos vão desde uma moqueca até os
quibes dos muitos árabes que perambulam pela
obra do autor de D. Flor.
Um belo presente para pessoas da terra
ou, principalmente, para pessoas de fora, interessadas em levar consigo um
pouco do gosto baiano, é este livro lançado pela Maltese.
Crônica de uma admiração anunciada
Ruy Simões é um conhecido professor de
filosofia, admirador da música, da literatura e das artes em geral. Ainda
hoje lembro do antigo professor do curso clássico do Colégio da Bahia, cujas
aulas eram acompanhadas vivamente por todos nós, adolescentes atônitos ou
rebeldes dos anos pós-golpe militar.
Mesmo sem fazer chamada, suas aulas
reuniam os trinta e tantos alunos matriculados e mais alguns outros das turmas
vizinhas, interessados na conversa atraente transformada em forma de ensino.
Provocativo, às vezes irônico, Ruy Simões transformava suas aulas numa grande
conversa sobre a filosofia e os fatos que nos envolviam. É este mesmo estilo
de conversa que ele conserva no livreto que acaba de publicar: Depoimento
sobre Saramago.
Trata-se de uma crônica anunciando a
sua admiração pelo autor português, na qual ela nos conta a sua descoberta da
obra de Saramago e a viva impressão causada pelo escritor mesmo enquanto
tradutor de textos não literários. Ruy descobriu Saramago ao ler o livro de
André Bonnard Civilização grega, traduzido pelo romancista. Não sabia de quem
se tratava, mas foi tomado de admiração pelo estilo do tradutor. Daí à leitura
das obras de Saramago foi um passo, ou melhor, foi uma novela, cheia de
peripécias interessantes.
Por fim, veio a curiosa fixação de Ruy
Simões nas dedicatórias dos livros de José Saramago a Isabel. Seu interesse e
sua admiração ultrapassaram o texto do escritor e chegaram à relação
Saramago-Isabel, tanto que em 89, conforme confessa, relutou em ler História
do cerco de Lisboa, dedicado não mais a Isabel, mas a uma certa Pilar.
“Nesta ocasião, Saramago esteve em
Salvador. Com antecedência, Caribé telefonou-me, formalizando convite para um
encontro de nós três, em seu atelier.
Não fui, desculpando-me depois. Silente solidariedade a Isabel.”
Um verso de Caetano Veloso sempre me
acompanha: “eu desejo teu desejo”. A admiração de Ruy resvalou de Saramago
para a pessoa da admiração do escritor, nas primeiras obras. Por fim, fixou-me
mais na pessoa admirada pelo admirado: silente solidariedade.
Outros lançamentos: notícia breve
A Filha do General, de
Nelson DeMille. Rio de Janeiro, Objetiva, 1994. Para o leitor de best
seller este é mais um livro com mais de um milhão de exemplares
vendidos nos Estados Unidos. Como, também no Brasil, o que é bom para João é o
que é bom para Pedro, para Paulo, para Plínio e para Patrícia... mais não
digo.
Recordações de um Agente Secreto, de
Maria de Lourdes Krieger. Porto Alegre, Mercado Aberto (Série Pé-de-Moleque).
Escrito em forma de diário de um adolescente, a história destina-se ao público
juvenil, mas, apesar das ilustrações, o tipo miúdo em que foi composto o livro
só atrai mesmo aos adolescentes de óculos, capazes de ler qualquer coisa que
lhes caia às mãos e de enxergar tão bem como o menino que, significativamente,
usa uma lupa no desenho da capa.
O público alvo da coleção pede um corpo de
letra com maior apelo visual.
Hélio Simões e o Instituto de Letras
O poeta Hélio Simões foi um dos docentes
fundadores do Instituto de Letras da UFBA. Para preservar sua memória e seu
acervo bibliográfico foi criada a Associação de Estudos Portugueses Hélio
Simões que, há alguns anos, teve as atividades paralisadas por falta de um
lugar seguro para o seu funcionamento. Agora, o Diretor do Instituto de
Letras, Prof. Aurélio Lacerda, secundando compromisso assumido pelo Reitor
Felipe Serppa, resolveu fechar uma pequena área destinada a Associação, na
Biblioteca Central da UFBa. e reinstalar os condicionadores de ar, para que o
acervo volte a ser consultado. Esperamos em breve poder noticiar a
re-inauguração deste espaço, com seu equipamento funcionando.
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Livros & Idéias é publicada
todas as segundas-feiras em A Tarde. Correspondências para esta coluna: Rua
Alagoinhas, 256, apto. 101. CEP 41.949-629, Salvador, Ba. Salvador, 9 de outubro de 1994.
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