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PENSAMENTO,
LINGUAGEM
E INFORMÁTICA
Pensamento, linguagem e informática (resenha de
livro). A Tarde, Salvador, 31 out.
94, p. 5.
Seguido de O corpo da paixão. A Tarde, Salvador, 31 out.
94, p. 5.
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Ao enfrentar o problema das relações
entre linguagem e pensamento como atividades básicas do cérebro, Israel
Rosenfield não prescinde das investigações atualmente empreendidas na área da
informática, como meio de simulação das experiências com o cérebro humano. Se
no passado os neurologistas se valiam da intervenção direta sobre os neurônios
como forma de testar suas hipóteses, o avanço da ética retraiu tais
experiências. Como alternativa, os modelos eletrônicos passaram a despertar a
atenção dos estudiosos da saúde mental e da estrutura cerebral.
Mas
uma pergunta, ainda irrespondida
de modo definitivo, perturba os especialistas: o conhecimento adquirido
pelo
homem através da percepção e da
reelaboração psíquica está guardado no
cérebro
como os dados no banco de memória de um computador?
Tradicionalmente, o cérebro era visto
como um reservatório, onde as experiências e pensamentos eram armazenados em
locais específicos ou em determinados grupos de neurônios. Freud, por exemplo,
que antes de se tornar o criador da psicanálise, empreendeu pesquisas
neurológicas e exerceu clinicamente a neurologia, esboçou, em 1895, um
psicologia para neurologistas. Neste texto, ele retoma a tradição acadêmica
para depois ir adiante e apresentar uma tentativa inicial de uma nova
compreensão da vida psíquica. Ao classificar os neurônios como permeáveis e
impermeáveis, reservou aos primeiros a tarefa de mediar a passagem de energia
e, conseqüentemente, de informações, e aos segundos o papel de centros
retentivos. É esta segunda classe de neurônios que possibilita a constituição
da memória.
Mas, desde esta época, uma questão
surgia: uma vez armazenados estes dados permanecem estáveis e inalteráveis ou
podem ser dinamizados e conseqüentemente recombinados com outros dados e outras
informações? Este mesmo problema que se apresentava a Freud também, preocupa
Rosenfield que vê o cérebro não como um reservatório, mas como um gerador
criativo da memória.
O autor, que é graduado em medicina
pela Universidade de Nova York e doutor em Princeton, pretende com os estudos
expostos neste livro e anteriormente apresentados em aulas e conferências em
várias universidades norte-americanas, rever e acrescentar algo de novo 1a
descoberta de Paul Broca. Em 1861, Broca percebeu que a perda da capacidade da
fala podia ser atribuída a uma pequena lesão do lado esquerdo do cérebro. Em
seguida, descobriram-se outros centros da linguagem que provavelmente exerciam
diferentes tarefas lingüísticas, bem como foram identificadas outras áreas do
cérebro que controlavam os movimentos do corpo em partes como as mãos, os
dedos, a língua etc.
As investigações de Israel Rosenfield
querem negar o ponto de vista dos adeptos da localização das funções e traços
mnemônicos permanentes. Por outro lado, ele não abandona a lição anterior
segundo a qual o cérebro é uma estrutura biológica e acrescenta: “Somente em
termos de princípios biológicos é que seremos capazes de entendê-lo. É tarefa
deste livro (...) determinar a importância desses princípios.”
Mas a rigor, Israel Rosenfield arrola
uma série de estudos do século passado e dos últimos anos sem dar a eles uma
organicidade capaz de tornar seu livro uma contribuição por si mesma
importante. Falta ao texto amarrar as idéias anunciadas de modo convincente e
sistemático para que Rosenfield dê a contribuição que os editores do livro
anunciam.
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Israel Rosenfield. A Invenção da
Memória: Uma Nova Visão do Cérebro. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1994. Pensamento,
linguagem e informática (resenha de livro). A
Tarde, Salvador, 31 out. 94, p. 5.
O corpo da paixão
O
afeto, as águas turvas da alma e as límpidas pedras do corpo constituem o tema
desde livro de Tereza Tenório, poeta do Recife. Corpo da terra reúne um
pouco da poesia quente e expressiva de uma das vozes mais enfáticas da poesia
feminina no Brasil.
Os
três núcleos ideativos que marcam o percurso do livro são “Corpo da terra”,
“Geografia da origem” e “Intersigno”, perpassados por uma temática recorrente:
o afeto, quer em forma do amor, tema antigo e renovado; na forma do aprendizado
amoroso situado no lugar onde a geografia é origem; e, por fim, o romper do fio
tênue de um querer-bem primeiro, ou o amor temporariamente vencido pelo seu
arquirrival, Thanatos, o impiedoso senhor do nunca mais.
Os momentos mais marcantes e cheios de tensão
do livro de Tereza Tenório são aqueles em que o corpo da paixão fulgura como
uma estrela, objeto com luz própria que se incendeia ao toque da superfície. No
poema “A quem amo”, a síntese e o ápice do dito, da palavra de mulher:
“Iluminaram-se salões
impenetráveis de ácido
os interdérmicos beijos
desses ritos ancestrais
de nos comermos em pelo
desde os limites dos ossos
aos insondáveis avessos.”
Corpo
da Terra, sexto livro de Tereza Tenório, publicado pela Tempo Brasileiro, dá ao
leitor a medida de que a poesia continua insistindo em dizer tudo aquilo que a
velocidade e a máquina ocultam mas não conseguem apagar. Sobre a escrita da
autora, além do que já se disse, pode-se ainda acrescentar, retomando de perto
uma afirmação de Olga Savary, que estamos diante de um despojamento que se
propõe lapidar. E mais: consegue lapidar o mineral extraído da terra. Teresa
Tenório escreve com a suavidade poderosa da água na superfície da pedra. Eis o
corpo da terra.
_____________________
Teresa Tenório. Corpo da terra;
poesia. Apresentação de Fábio Lucas. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1994. O
corpo da paixão (resenha de livro). “Literatura”, seção do jornal A Tarde,
Salvador, 31 out. 94, p. 5.
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